FRASCOS DE PERFUME

     O que representam os frascos bonitos? Por vezes eles são o fundamento sobre o qual metade do sucesso de uma marca perfume se baseia. Como escreveu François Coty:

"Dê a uma mulher o melhor produto que se possa fazer, venda-o no frasco perfeito, belo na sua simplicidade mas de gosto impecável, peça um preço razoável, e verá o nascimento de um negócio do tamanho que o mundo nunca viu antes."

     O papel do designer de frascos no sucesso de uma fragrância é enorme, e neste artigo em particular decidimos celebrar as obras de artistas e escultores famosos que criaram grandes frascos de perfume. Perdoem-me, Pierre Dinand, Serge Manseau, Thierry de Baschmakoff, Lutz Herrmann, Ora-Ito, Philippe Starck e todos os outros. Fica para uma próxima!

René Lalique

De fato, Coty e Lalique podem ser o primeiro exemplo de colaboração entre perfumistas e artistas. Não posso dizer que René Lalique tenha sido um designer de frascos – ele é um escultor de cristal e um artista de vidro.

     Os seus frascos eram tão perfeitamente belos que essas obras-primas atraiam os compradores – com ou sem líquidos fragrantes lá dentro. René Lalique e François Coty precisavam um do outro, era uma simbiose ideal – graças a ela, Lalique deixou o negócio da joalheria e dedicou toda a sua vida ao trabalho em cristal. Lalique criou frascos lendários para Ambre Antique Coty, Mimeomai Volnay, Ambre d'Orsay, Violette Houbigant e muitos, muitos outros. E quem poderia esquecer o lendário frasco de L’Air du Temps Nina Ricci e outros frascos de Nina Ricci...

     Em 1992, Lalique extravasou todas as relações de simbiose e tornou-se uma marca de perfumes, lançando sua primeira fragrância, e alguns anos depois lançou uma coleção exclusiva de fragrâncias. Foi por isso que decidimos incluir o trabalho de René Lalique neste artigo, deixando para trás famosos mestres da mesma altura como Lucien Gaillard, André Jolivet e Julien Viard.

Le Roi Soleil de Schiaparelli

     A famosa designer de moda italiana Elsa Schiaparelli era amiga de Salvador Dali e de outros artistas do surrealismo. A sua influência é notável nas suas peças de roupa e acessórios surrealistas. Após o final da II Guerra Mundial, o artista Salvador Dali criou um frasco e uma embalagem para o perfume Le Roy Soleil de Schiaparelli, que foi lançado em 1946.

     Como todos os perfumes desta década, ele simbolizava a libertação de França da ocupação Nazi. Um frasco de cristal cónico feito pela Baccarat, coberto com ondas do mar douradas e azuis, e uma tampa com a forma de um radiante disco solar dourado com raios de ouro, escondido em seda entre as conchas douradas de uma vieira.

   Os pássaros pretos no fundo de um disco dourado formavam um trompe-l’oeil de uma cara de sol – e esses pássaros voando liremente sobre o mar eram o símbolo da liberdade, que cada francês sentia nessa época. Schiaparelli chamou ao frasco "Rei Sol", batizado a partir do Rei Louis XIV e da aguarela homônima de Dali. As 2,000 cópias do magnífico perfume foram feitas, vendidas e esgotadas muito rapidamente.

     Após muitos anos, os motivos da aguarela de Salvador Dalí chamada "Rei Sol" (1945) apareceram de novo na perfumaria. Num design simplificado, a criação foi usada pela marca Salvador Dali para fazer os frascos de Le Roi Soleil (1997), em luxuoso cristal e vidro mais acessível. Depois o motivo da cara-sol foi usado em baixo-relevo nos frascos de Le Roi Soleil Homme (1998), Black Sun (2007), Black Sun Sport (2009) e Le Roi Soleil Extreme For Men (2012). E a marca Salvador Dali é a próxima heroína do nosso artigo – veja em baixo!

Salvador Dali e Cofinluxe

   Nos anos 70s, Jean-Pierre Grivory, o jovem export manager da companhia Eau de Cologne Mont St Michel, inventou o conceito de "perfume como obra de arte".

     Mas a administração da companhia viu o seu futuro nas colônias clássicas e não estava interessada em conceitos inovadores. Por isso, Grivory decidiu criar a sua própria companhia para trazer o conceito à luz do dia. Ele decidiu escolher o surrealista Salvador Dali como parceiro mundialmente famoso, para imortalizar o nome do artista em fragrâncias. Em 1982, o contrato com o artista foi assinado. Salvador Dali criou o frasco-escultura original com a forma de lábios e nariz, baseado no quadro "Aparição do rosto de Afrodite de Knidos numa paisagem". O frasco de Salvador Dali Parfum pesava mais de um quilo! O conceito foi bem sucedido – pelo preço de 20,000 francos por um frasco com a assinatura do artista, os consumidores podiam comprar um perfume e uma obra-prima assinada. A edição limitada de 5,000 frascos numerados esgotou.

     Rapidamente a arte de Dali tornou-se mais próxima das pessoas – a fragrância Salvador Dali vinha num belo frasco de "black lips" em 1985, a sua composição foi criada por outro espanhol brilhante, Alberto Morillas. Depois, os frascos artísticos de Dali incluíram outros perfumes da marca – Rubylips, Blacksun, Dalimania, etc. – mas o próprio artista não participou na sua criação. A propósito, é possível encomendar uma cópia em cristal do primeiro perfume Salvador Dali hoje ($2000) – além disso, os frascos de cristal tiveram edições limitadas de Rubylips e Daliflor. E Jean-Pierre Grivory continuou a usar obras de arte – os lábios favoritos de Dali foram dados aos perfumes Laguna, Eau de Dali, Fabulous Marudhai, Fabulous 1 Dali.

Kazimir Malevich e Severny Cologne

     Alexander Genrikhovich Brocard, director of Russian "Brocard and Co" perfume factory, ordered a bottle design for "Severny Cologne" to then-little-known artist Kazimir Malevich in 1908.

     O desenho de um frasco de vidro com a forma de um icebergue texturizado com uma tampa de cristal com a forma de um urso polar no topo, foi transferido para a fábrica de vidro Bakhmetevsky. Simultaneamente, Malevich, que ainda não se tinha tornado no pai do Suprematismo, criou uma etiqueta de perfume assim como os cartazes de publicidade – mas parece que ele ficou embaraçado com isto não como obra de arte imortal mas como forma de obter comida. Ele nunca falou sobre esta obra e o fato só foi descoberto no século XXI.

     A produção desta refrescante e forte colônia cítrica começou em 1911, e foi depois continuada nos tempos Soviéticos na mesma fábrica (após a nacionalização a fábrica foi rebatizada como Novaya Zarya) tendo sido descontinuada apenas no final do século em 1996. Durante este tempo, o frasco passou por mudanças e simplificações no design – a figura do urso tornou-se mais simples, a tampa de vidro foi substituída por uma tampa em rosca, e o próprio frasco ficou mais simples. Toda a história dos frascos de Severnyy al longo dos anos pode ser vista até 25 de Fevereiro de 2018 em Moscou na exposição "Kazimir Malevich. Not only the Black Square". E já agora, os chocolates Russos chamados "Urso do Norte" paresem muito semelhantes ao design de Malevich – será que se basearam no mesmo design de “Severny Cologne”?

     Em conclusão, eis algumas menções honrosas de grandes obras de arte. Várias marcas de perfume usaram trabalhos esculturais nas suas tampas, não nos frascos. MDCI Parfums usou bustos de cristal do imperador romano Caracalla e bustos femininos no espírito renascentista (depois o material mudou para porcelana de Limoges e agora plástico).

    Majda Bekkali de Sculptures Olfactives Majda Bekkali usou esculturas originais de Isabelle Jandot e Claude Justamon para criar tampas de cristal para os seus perfumes de edição limitada. As reconhecíveis tampas de Chapeau Bleu Marina Picasso são imagens em 3D do quadro Buste De Femme Au Chapeau Bleu desenhado pelo seu avô Pablo Picasso em 1939. Contudo, os frascos originais destes perfumes não podem ser chamados de obras-primas.

Parfum Rodo Lance (1896), Coeur de Jeannette Houbigant (1899), Alphonse Mucha

   Outro quase-exemplo – Alphonse Mucha e seus magníficos cartazes de publicidade Art-Nouveau. Após o sucesso dos cartazes de teatro para Sarah Bernhardt, ele tornou-se no seu diretor artístico (1895) e assinou contrato com a editora Champenois, recebendo frequentes encomendas para cartazes, etiquetas e embalagens de álcool e fragrâncias, biscoitos e produtos de toilette (Houbigant, Violet, etc).

      Após criar uma embalagem para a coleção de sabonetes Armor & Co, este sabonete de Chicago começou a ser chamado pelo seu nome – sabonete Mucha. Além disso, podemos julgar como os perfumes Coeur de Jeannette Houbigant (1899) e Parfum Rodo Lance (1896) mudaram a sua imagem a partir da participação deste artista – bela, mas apenas em etiquetas e embalagem.